Acompanhando esse momento de grande progresso, estão algumas inovações que têm o potencial para moldar a próxima revolução tecnológica. Entre elas, destacam-se algumas que atraem grande interesse do público, especialmente por suas inúmeras aplicações no universo corporativo e no cotidiano das pessoas: blockchain, inteligência artificial (IA) e machine learning.
Enquanto o blockchain impulsionou a criação das criptomoedas, como o bitcoin, o machine learning está sendo usado para treinar carros para dirigirem sozinhos e a inteligência artificial já ocupa um lugar nas casas de muitas pessoas na forma de assistentes pessoais, como Alexa e Siri.
O que é o blockchain?
Uma das primeiras aplicações do blockchain ocorreu com a criação do bitcoin. Sua tecnologia auxiliou a descentralizar o uso da moeda e, ao mesmo tempo, preservou o anonimato das transações, garantindo que todas as transações fossem registradas em espaços públicos.
Devido ao seu poder de armazenar informações, manter o anonimato das transações e evitar mudanças não autorizadas, muitas empresas têm buscado usos alternativos para o blockchain. Sua aplicação imediata (e mais lógica) ocorre nas transações financeiras. No entanto, cada vez mais essa tecnologia está sendo aproveitada em outros setores, como saúde, seguros, transportes e na cadeia de suprimentos, bem como no exercício do voto.
Em sua essência, o blockchain é como um livro que registra todas as transações individuais relacionadas ao produto. Essas transações podem ocorrer em qualquer parte da cadeia de suprimentos.
As transações podem se dar na forma de movimentação de dinheiro, bens ou dados relacionados ao produto, como por exemplo, a compra de matérias-primas, a aquisição de peças para fabricar um novo material, ordens de compra, inspeções de qualidade ou de produto, ordens de faturamento e pagamento bancário. Cada uma dessas transações é armazenada digitalmente como um bloco na base de dados. Cada bloco registra a data da transação e torna-se intrinsecamente ligado um ao outro. Os blocos são então amarrados cronologicamente em uma cadeia - daí o termo "blockchain".
Para efeito de comparação, se cada transação fosse uma imagem, juntá-las e analisá-las holisticamente geraria um filme - uma história do produto - desde sua concepção até o consumo e eventual venda. O diferencial do blockchain é seu sistema de verificação e segurança.
Aplicação prática na cadeia de suprimentos
A tecnologia blockchain tem o potencial de mudar a forma como compramos e vendemos produtos e serviços. A verificação e a autenticação do produto em cada etapa proporcionam maior rastreabilidade, gerando confiabilidade à cadeia de suprimentos. É virtualmente impossível alterar esses dados sem que isso seja detectado por outros usuários, uma vez que ninguém possui acesso ao conjunto inteiro de dados. Outra vantagem é que qualquer organização ou fornecedor na cadeia de suprimentos pode usar um sistema diferente, o que não afeta a integridade do blockchain.
O exemplo a seguir mostra como o blockchain pode ser utilizado para aprimorar os processos na cadeia de suprimentos:
A empresa B deseja comprar o produto X do fornecedor A. O produto X possui diversas matérias-primas, incluindo alguns metais básicos que o fornecedor deve obter de um distribuidor global de metais. A empresa B emite um pedido para comprar uma determinada quantidade do produto X do fornecedor A.
Como a empresa B está comprando esse produto pela primeira vez do fornecedor A, ela realiza uma inspeção rigorosa de qualidade para receber o produto. Depois de realizar os procedimentos de qualidade e inspecionar todas as matérias-primas, incluindo as dimensões do material, a equipe de qualidade recebe as matérias-primas em seu inventário. O fornecedor A envia então uma fatura referente ao pedido de compra. A empresa B processa a fatura e a envia ao banco para efetuar o pagamento e concluir a transação.
Como mostrado na representação visual do blockchain abaixo (clique na imagem para uma melhor visualização), diversas transações estão envolvidas nesse cenário:
A criação do pedido de compra da empresa B é o primeiro bloco desse processo. Este bloco contém informações relativas à quantidade do produto X, custo e data de entrega do produto - informações obtidas a partir do pedido de compra. O bloco registra a data da transação e recebe um identificador exclusivo. Em seguida, o blockchain verifica a veracidade desse pedido de compra e o valida.
Usando este pedido de compra, o fornecedor A envia seu próprio pedido de compra ao distribuidor de metal, solicitando determinado material (necessário para fazer o produto X). Isso cria um bloco diretamente ligado ao bloco anterior.
O distribuidor de metais compra sua matéria-prima de algumas fundições ao redor do mundo. Quando faz o embarque do metal para o fornecedor A, seu bloco inclui as fontes da matéria-prima. Essas informações são marcadas no pedido de compra do fornecedor A e, consequentemente, no pedido de compra da empresa B também.
O metal, juntamente com outras matérias-primas, é processado na fábrica do fornecedor A e o produto X é fabricado. Todos as rotinas, operações de usinagem e inspeções internas de qualidade chegam à ordem de produção do produto X, que por sua vez está vinculada ao pedido de compra da empresa B, criando assim um novo bloco.
O produto X aparece no departamento de inspeção de qualidade da empresa B, onde é possível monitorar toda a cadeia de suprimentos, desde os certificados e documentos internos de fabricação do fornecedor A, até os resultados da inspeção de qualidade. Dessa forma, o departamento de qualidade pode realizar sua própria inspeção, registrando os resultados em outro bloco e vinculando-o ao próprio pedido de compra.
Depois que o produto X é recebido no estoque, o fornecedor A envia uma fatura contra o pedido de compra. A fatura é comparada ao pedido de compra e valida se a quantidade e o preço na fatura correspondem ao pedido original, criando assim outro bloco na cadeia.
É possível extrapolar esse cenário com o produto X sendo enviado para consumo a um local remoto. E se esse produto apresentar alguma falha ou defeito? O histórico do produto X - incluindo o lote e o número de série do metal usado durante a produção - pode ser identificado usando o blockchain. Potencialmente, outros produtos afetados usando o mesmo metal do mesmo número de lote e número de série com a falha podem ser identificados rapidamente, evitando, dessa forma, outras falhas.
O conceito por trás do blockchain é de que a informação seja parte de uma cadeia e obtenha sua própria chave, que está relacionada ao bloco anterior. Se as informações em um bloco forem adulteradas, a chave não será mais compatível com o bloco, o que aumenta o nível de segurança das transações e de prevenção de fraudes.
Desafios para a adoção do blockchain
O primeiro deles diz respeito aos elevados custos e investimentos necessários para manter a tecnologia em operação ao longo de toda a cadeia de suprimentos. Grande parte da cadeia ainda se baseia em processos antigos de rastreabilidade e validação. Para que uma transação realizada no blockchain seja validada, é necessário que seja processada por todos os computadores conectados à rede, o que impõe limites à eficiência do sistema. No curto prazo, somente as grandes corporações podem conseguir sustentar essa tecnologia, com apenas algumas partes da cadeia de suprimentos adotando o blockchain.
Além disso, toda a eficácia da cadeia de suprimentos está limitada ao seu elo mais fraco. Se um fornecedor não for criterioso ao inserir informações precisas no blockchain, este será tão fraco quanto esse fornecedor. Em contrapartida, todos os envolvidos na cadeia de suprimentos devem adotar e se adaptar ao blockchain, caso contrário, o sistema perde sua finalidade.
Outra desvantagem diz respeito à alta complexidade da cadeia de suprimentos, envolvendo diversas partes interessadas (fornecedores, distribuidores, clientes), o que dificulta o monitoramento e validação das transações. A ausência de regulamentação e de protocolos comuns entre as empresas para a realização das transações pode aumentar o prazo para uma adoção mais ampla do blockchain e gerar limitações ligadas à governança corporativa, exigindo acordos e padrões para garantir a compatibilidade dos blocos.
A descentralização do sistema e a falta de visibilidade de todos os elos da cadeia de suprimentos também aumentam a exposição a diferentes tipos de riscos, como fraudes e violação de códigos de conduta, pois em muitos casos as organizações podem precisar compartilhar informações sigilosas com parceiros que estão invisíveis na rede.
Apesar desses pontos críticos, o principal diferencial das empresas que utilizarem o blockchain em relação à concorrência é a possibilidade de entregarem produtos e serviços de qualidade com total rastreabilidade e maior segurança.
O blockchain pode representar um importante passo para aumentar a confiabilidade da cadeia de suprimentos, trazendo informações sobre o grau de eficiência e otimização dos processos, ajudando a monitorar o desempenho das partes interessadas e conferindo maior qualidade aos produtos.
Texto adaptado do artigo: "The time is now" - Revista Quality Progress, outubro de 2018.
Já pensou se você pudesse saber se sua cerveja está gelada ou passou do ponto dentro da latinha, antes mesmo de abri-la? Com o auxílio do blockchain, isso já é possível!
Recentemente, a
cervejaria americana Alpha Cid, em um evento da Oracle sobre Inovação, apresentou 4 rótulos de
cerveja cujas etapas de produção foram monitoradas pela tecnologia blockchain.
Nessa aplicação cervejeira, os
documentos inseridos no blockchain trazem dados sobre os ingredientes e o processo
de fabricação. As informações ficam armazenadas em um código QR ou de barras,
presente no rótulo da cerveja. Ao consumidor, cabe apenas ler o código com o
celular, sendo depois redirecionado para um site, no qual constam todas as
informações sobre a bebida.
Além disso, o
blockchain está auxiliando a cervejaria em outros processos da empresa, facilitando a
rastreabilidade dos fornecedores, reduzindo a quantidade de papel e ajudando
a encontrar falhas na produção.
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