8 de novembro de 2020

HAZOP ou Análise BowTie - Qual técnica é mais eficaz?

Uma das técnicas de análise de riscos amplamente utilizada na gestão de riscos e também presente na norma IEC 31010:2019 é o HAZOP - Hazard and Operability Study ou Estudo de Perigos e Operabilidade. O HAZOP é uma metodologia qualitativa que ajuda a identificar e analisar riscos relacionados à segurança de processos, que podem afetar pessoas, equipamentos, instalações, meio ambiente, etc.

Ele investiga de forma aprofundada as partes do processo, detectando possíveis variações em relação ao que foi projetado e permite reconhecer problemas que possam afetar os resultados da operação, reduzindo a qualidade do projeto e/ou do processo.

Assim como a Análise BowTie (BTA), o HAZOP vai além da identificação de riscos, mapeando suas potenciais causas e consequências e indicando medidas preventivas e corretivas que possam minimizar o impacto dos riscos.

Como elaborar um HAZOP?


Para desenvolver um HAZOP, é necessária, assim como na BowTie, uma equipe multidisciplinar, para avaliar o processo sob diferentes pontos de vista.

O HAZOP é uma técnica estruturada, baseada em texto, que identifica potenciais perigos e problemas de operabilidade em um projeto ou processo. Possui dois focos principais: problemas de segurança e problemas de operabilidade. Os de segurança dizem respeito, na maioria das vezes, aos riscos corridos pelos colaboradores e pelos equipamentos. Já os de operabilidade, não estão relacionados a estes últimos, mas comprometem a produção, podendo afetar sua qualidade e eficiência.

A figura abaixo ilustra um exemplo de HAZOP, detalhando os riscos associados à transferência de ácido do tanque A para o tanque B em uma embarcação:

Figura 1 - Exemplo de HAZOP (clique na imagem para ampliar)

Como podemos observar, a técnica identifica desvios em relação ao projeto pretendido, combinando palavras-guia como, por exemplo, "Sem", "Mais", "Menos" e parâmetros, como "Fluxo", "Temperatura", "Nível". Em seguida, relaciona cada possível causa do desvio a uma consequência, utilizando controles (ou proteções ou barreiras) para minimizar a ocorrência ou os efeitos desses desvios. Por fim, é possível inserir ações e responsáveis pelo tratamento desses desvios nas colunas seguintes, como em uma planilha em Excel.

No entanto, apesar de ajudar a identificar e analisar os riscos relacionados aos processos e projetos, o HAZOP possui algumas limitações, que podem ser aprimoradas por meio da BowTie.

Limitações do HAZOP 


Uma das desvantagens do HAZOP é sua natureza pouco visual, o que pode tornar o processo de identificação e registro dos riscos monótono e cansativo. Dessa forma, os responsáveis pelos preenchimento das informações sobre os riscos podem ficar sobrecarregados se trabalharem em um HAZOP e olharem para um mesmo texto por um longo período, que pode durar dias ou até meses, dependendo da escala e complexidade do processo. Além disso, como nossos cérebros absorvem e interpretam mais dados de uma imagem do que de um texto, os estudos podem ser mais produtivos caso imagens sejam integradas à análise.

Outro ponto que limita a eficácia do HAZOP decorre da técnica mostrar todos os controles em uma mesma coluna, sem diferenciar controles preventivos, que atuam sobre as causas dos eventos, dos controles reativos, que minimizam os efeitos dos mesmos. Essa limitação geralmente faz com que as equipes de estudo HAZOP deem pouco valor à importância dos controles...


Sem uma avaliação abrangente das contribuições individuais dos controles para a redução dos riscos, sua criticidade torna-se subjetiva, pois eles passam a ser analisados isoladamente, fora do contexto de outros controles. Se o papel dos controles não for claramente compreendido, eles podem não desempenhar adequadamente a função para a qual foram projetados, limitando sua eficácia.

Por último, o HAZOP tende a focar em uma única causa, que pode gerar diversas consequências, enquanto a experiência mostra que os riscos são originados por uma variedade de causas complexas de documentar. Da mesma forma, incidentes causados por eventos independentes ou coincidentes nem sempre são exibidos ou registrados pela técnica.

HAZOP x BowTie


Com a BTA, é possível aprimorar o HAZOP criando cenários de riscos mais completos e fáceis de comunicar dentro da organização. A BowTie faz uma clara diferenciação entre a gestão de riscos preventiva, relacionada às causas do evento, da gestão de riscos reativa, que atua sobre suas consequências.

Os desvios e suas possíveis causas podem ser documentados no diagrama BowTie como causas (ou ameaças). Para cada causa, as proteções que podem evitar uma perda de integridade (como por exemplo medidas de contenção) são registradas como controles (ou barreiras) preventivos. 

As consequências associadas a essa(s) causa(s) são registradas junto às medidas de recuperação necessárias após a perda de integridade, que, por sua vez, são exibidas como controles reativos. Além disso, a metodologia BowTie permite avaliar tanto a probabilidade de ocorrência de cada consequência como a eficácia de todos os controles estabelecidos.

O exemplo a seguir mostra a conversão do HAZOP da Figura 1 para um diagrama BowTie: 


Figura 2 - Exemplo de HAZOP Convertido para BowTie 
(clique na imagem para ampliá-la e fazer download do diagrama)


Como se vê, a conversão das linhas de texto de uma tabela HAZOP, que é uma representação unidimensional de uma única causa levando a uma única consequência, em um diagrama BowTie com múltiplas causas conectadas a múltiplas consequências (de forma independente), revela com maior clareza os cenários de risco e torna 
visíveis todas as causas e consequências, assim como os controles preventivos e reativos.

No entanto, quando se converte um HAZOP para BowTie, é necessário revisar quaisquer discrepâncias entre as técnicas, como controles ausentes ignorados pela equipe de estudo ou controles atribuídos inadequadamente à causa ou consequência errada. Isso geralmente requer a revisão do HAZOP e a retomada das discussões pela equipe responsável. 


Uma alternativa ainda pouco difundida envolve utilizar a Análise BowTie para debater e documentar cenários para minimizar erros e omissões. Essas discussões podem simplificar a complexidade dos cenários de risco e esclarecer melhor o contexto da análise. 

No exemplo acima, a conversão do HAZOP para um diagrama BowTie revela poucos controles reativos comparados aos preventivos. Assim, é mais eficiente detectar essas discrepâncias no início do estudo. Documentar a discussão por meio da BTA em tempo real permite que essa deficiência seja corrigida no início da análise.

Considerações finais


A abordagem para aprimorar a técnica HAZOP usando BowTies baseia-se na eficácia da comunicação visual dos riscos e permite reter conhecimentos sobre os cenários no longo prazo; é mais fácil lembrar imagens do que memorizar palavras. Assim, as informações sobre os cenários de risco podem ser facilmente migradas das planilhas ou tabelas textuais do HAZOP para a representação visual da BTA.

Uma etapa inicial seria converter planilhas HAZOP em diagramas BowTie para testar a eficácia da BTA. Com resultados positivos, seria possível documentar futuros HAZOPs usando BowTies. 

Utilizando essa metodologia, as informações textuais sobre os riscos presentes nas planilhas e/ou tabelas são aprimoradas e se tornam conhecimentos visuais, que podem ser facilmente difundidos pela organização.

PS: se você ainda não viu, assista aos vídeos e baixe os slides da nossa 'live': Transformando Riscos em Imagens Visuais Fáceis de Entender.