2 de setembro de 2024

Aplicando a Abordagem da ISO 31000 na Gestão de Riscos Climáticos

Nos últimos tempos, o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como tempestades, secas e inundações, têm feito com que a gestão de riscos climáticos torne-se uma prioridade em diversos setores, desde o agrícola até o financeiro. 

Em fevereiro de 2024, o IAF (International Accreditation Forum) emitiu um comunicado, em conjunto com a ISO, anunciando novos requisitos para a inclusão de considerações sobre mudanças climáticas em todas as normas ISO de sistemas de gestãoEspera-se que essas inclusões contribuam para que as mudanças climáticas sejam reconhecidas como um fator crítico, que pode impactar a eficácia de qualquer sistema de gestão.

Nesse contexto, é importante que as organizações adotem uma abordagem sistemática e estruturada para identificar, analisar, avaliar e tratar os riscos climáticosA norma ISO 31000:2018 fornece diretrizes valiosas para a gestão de riscos em geral, incluindo os riscos climáticos, permitindo que as organizações criem e protejam valor de forma sustentável.

Como então utilizar a abordagem proposta na norma para aprimorar a gestão dos riscos climáticos, considerando o Processo de Gestão de Riscos da ISO 31000?


Contexto, Escopo e Critérios

Antes de iniciar o Processo de Gestão de Riscos, é essencial definir o que a organização deseja alcançar (escopo) e entender o contexto em que ela opera, tanto externo quanto interno. 

No caso dos riscos climáticos, o contexto externo pode incluir fatores como mudanças nas políticas governamentais relacionadas ao clima, tendências climáticas globais e regionais, e expectativas das partes interessadas.

O contexto interno pode envolver a análise de como as operações da organização são vulneráveis a eventos climáticos extremos, como inundações, secas ou tempestades.

Estabelecer critérios para avaliar a significância dos riscos climáticos é igualmente importante, pois ajuda a organização a decidir quais riscos são aceitáveis e quais requerem tratamento. 

Os critérios podem incluir a tolerância da organização a riscos climáticos, bem como considerações legais e regulatórias.


Comunicação e Consulta

A comunicação e consulta são fundamentais ao longo de todo o Processo de Gestão de Riscos. Envolver as partes interessadas internas e externas ajuda a garantir que os riscos climáticos sejam compreendidos de forma abrangente e que as preocupações de todas as partes sejam consideradas. Isso inclui consultas com especialistas em clima, comunidades locais e órgãos reguladores.

Identificação de Riscos

A identificação de riscos climáticos envolve o reconhecimento e descrição de dois tipos de riscos relevantes:

- Riscos físicos: eventos climáticos extremos que podem impactar a organização, como enchentes, secas, ondas de calor, tempestades e aumento do nível do mar. 

Riscos de transição: mudanças nas políticas climáticas, novas regulamentações, desenvolvimento de novas tecnologias, mudanças nos padrões de consumo e preferência dos clientes.

Para facilitar a identificação desses riscos, as organizações podem recorrer a ferramentas como análise SWOT, brainstorming, entrevistas com especialistas, análise de dados históricos de clima e análise de eventos climáticos extremos, que, embora raros, podem ter consequências severas. 

Por exemplo, uma empresa agrícola pode identificar o risco de seca prolongada, que poderia afetar a cultura de determinados insumos.

Análise de Riscos

Durante a análise de riscos, a organização deve analisar a probabilidade e as consequências dos riscos climáticos identificados. Isso pode envolver a utilização de técnicas quantitativas como, por exemplo:

- Análise de cenários: Criação de diferentes cenários climáticos futuros, considerando a frequência de eventos climáticos extremos e seu impacto potencial nos negócios. 

- Modelagem estatística: Quantificação dos impactos financeiros dos riscos climáticos, como perdas de ativos, interrupção das operações e custos de adaptação.

Outro exemplo: uma empresa localizada numa cidade costeira pode analisar o impacto potencial do aumento do nível do mar em sua infraestrutura, incluindo os recursos necessários para lidar com as possíveis consequências desse risco. 


- Análise de riscos de mercado: Análise dos impactos dos riscos climáticos nos preços dos ativos e nos custos de financiamento.

Análise de valor em risco (VaR): Estimativa da perda máxima potencial em um determinado período de tempo com um determinado nível de confiança.

Em diversos casos, também pode ser usada a análise qualitativa, para compreender e avaliar riscos que são difíceis de quantificar, como mudanças na reputação da organização devido a respostas a eventos climáticos. 

Uma importante técnica qualitativa que pode ser empregada para mapear os riscos climáticos é a Análise BowTie (BTA), que ajuda a visualizar as relações entre o evento principal, suas potenciais causas, consequências e respectivos controles (preventivos e reativos), facilitando a gestão estruturada dos riscos.

Para mostrar como a BTA pode auxiliar na análise de riscos climáticos, fornecemos o seguinte comando para o Chatbot Análise BowTie de Riscos e Controles do QSP:

"Forneça um exemplo completo de Análise BowTie aplicada à gestão de riscos climáticos, considerando o evento 'Seca prolongada' em uma organização do setor de energia".

Assim, com a resposta fornecida pelo chatbot, é possível elaborar o diagrama BowTie abaixo (construído com o auxílio do Software BowTieXP):


Diagrama BowTie - Risco de Seca Prolongada (clique na imagem para ampliar) 


Avaliação de Riscos

A avaliação de riscos envolve a comparação dos resultados da análise de riscos com os critérios de risco estabelecidos, para ajudar a organização a decidir quais riscos necessitam de tratamento e quais podem ser aceitos. 

Na avaliação de riscos climáticos, é importante priorizar riscos que têm maior probabilidade de ocorrer ou que podem causar danos significativos à organização.

Nesse sentido, a utilização de cenários climáticos desempenha um papel importante na compreensão e avaliação dos possíveis futuros das mudanças climáticas

Os cenários climáticos são construções hipotéticas que representam diferentes trajetórias de emissões de gases de efeito estufa e outros fatores que afetam o clima, como mudanças físicas e socioeconômicas. São ferramentas importantes para informar políticas, avaliar consequências, orientar pesquisas e estabelecer metas e compromissos climáticos.

Esse cenários dividem-se em duas abordagens distintas para modelar as mudanças climáticas: enquanto os cenários climáticos físicos concentram-se nas mudanças físicas do clima decorrentes da emissão de gases de efeito estufa, os cenários climáticos de transição levam em conta também as implicações socioeconômicas e políticas da transição para uma economia de baixo carbono.  

Assim, para começar a compreender e avaliar os riscos associados às mudanças climáticas, é possível utilizar matrizes de riscos baseadas em cenários climáticos, como nesse exemplo.

Tais matrizes fornecem uma estrutura inicial para identificar e analisar os impactos potenciais das alterações do clima em diferentes setores, regiões geográficas e sistemas naturais, permitindo a posterior implementação de medidas para gerenciar as consequências (positivas e/ou negativas) das mudanças climáticas.  

    Exemplo de matriz de riscos climáticos - para a matriz de oportunidades, as cores e nomenclaturas de criticidade se invertem, bem como o eixo de probabilidade (clique na imagem para ampliar)


Tratamento de Riscos

O tratamento de riscos climáticos pode envolver uma variedade de estratégias, incluindo a adaptação das operações para torná-las mais resilientes a eventos climáticos, a transferência de riscos por meio de seguros, ou a implementação de medidas de mitigação para reduzir a probabilidade ou as consequências negativas dos riscos

É importante desenvolver planos de tratamento de riscos que sejam flexíveis e possam ser ajustados à medida que novas informações sobre o clima se tornem disponíveis.

Por exemplo, uma organização pode optar por construir infraestruturas mais resilientes, como diques contra enchentes ou adotar práticas agrícolas que conservem a água em resposta ao risco de seca.
 

Monitoramento e Análise Crítica

O monitoramento contínuo dos riscos climáticos e a análise crítica dos planos de tratamento são essenciais para garantir que a organização permaneça preparada para enfrentar eventos climáticos. Isso pode envolver a revisão regular dos dados climáticos, a avaliação da eficácia das medidas de tratamento implementadas e a adaptação dos planos conforme necessário.

Registro e Relato


Durante todo o Processo de Gestão de Riscos, o registro detalhado dos riscos climáticos, das análises realizadas e das decisões tomadas, é fundamental para promover a transparência e assegurar que os riscos sejam geridos adequadamente. 


O relato eficaz dos riscos climáticos e das ações de gestão para as partes interessadas internas e externas garante que os envolvidos tenham acesso às informações necessárias para a tomada de decisões e reforça o comprometimento das organizações com a melhoria contínua da gestão dos riscos climáticos.
  

Considerações finais

A  gestão de riscos climáticos é um processo complexo e desafiador, mas fundamental para a sustentabilidade a longo prazo das organizações. 

A ISO 31000:2018 oferece uma estrutura sólida para a gestão de riscos e pode auxiliar as organizações a identificar, analisar e tratar os riscos climáticos de forma flexível e eficaz. 

Ao integrar a gestão de riscos climáticos em suas estratégias de negócios, as organizações podem não apenas proteger suas atividades e operações, mas também se tornar mais resilientes, contribuindo para um futuro mais sustentável.

* Parte deste texto foi elaborado com o auxílio do Chatbot Gestão de Riscos - ISO 31000, integrante do SuperChatGPT| ISO31000.net do QSP, e assistente dos candidatos à Certificação Internacional C31000.

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